segunda-feira, 30 de julho de 2007

Com os pés queimados no Topo do Progresso

A fotografia abaixo (assim como a que ilustra o cabeçalho do blog) fazem parte de uma série de estudos de uma performance no centro da cidade, sem título específico definido. Já o texto a seguir, é uma metáfora que precisei desenvolver em torno da foto:



Centro da cidade de Fortaleza, 11h da manhã de um sábado, dia de maior movimento de pessoas no núcleo comercial; todas com suas obrigações com trabalho ou consigo próprias, em pressa, em ritmo de indústria, sob o sol escaldante de julho.

Em uma esquina, principal cruzamento de ruas e com fluxo interminável de gente, ao longe estão elas: uma garota e sua bacia. Ela, esguia, pele alvíssima em contradição com o que o sol dita, segurando a bacia ordinária feita de metal qualquer, cheia de alguma água que, a favor da superfície metalizada, projeta um feixe de luz ofuscante; na própria garota, ou em que se aproximasse.

Suas roupas cotidianas, seus pés descalços, surpreendentemente parecem deslocados em um espaço que as pertence, assim como seu cabelo revolto às rajadas de vento. Toda essa neutralidade de cor também é contrastada com um forte tom escarlate de suas unhas e de sua boca, que parecem de um vermelho que acabara de jorrar de suas veias.

Em seu braço direito, um chamariz antinatural, tão grotesco quanto feminino. Um amontoado disforme de pérolas brancas de diversos tamanhos, presas a si sabe-se lá pelo o quê; nosso senso estético, em nossa cultura capitalista, jamais o decodificaria como uma pulseira de qualquer espécie. A forma com que se entrelaça no braço da moça, é tão firme que nos pergunta se seria aquilo uma parte do braço dela.

A ação: Minutos a fio de concentração na luminosidade refletida pelo líquido, já com os olhos quase cegos por essa luz, ela, após exitar vários momentos, inclina a bacia, que nesse instante deixa de ser bacia-de-lavadeira; torna-se ânfora, e tal qual as imagens astrológicas de Aquário, o líquido cai lentamente, refrescando o chão quente de concreto e os pés nus, congelando a atenção do povo por alguns segundos; e é nesse momento que a imagem dela, a ação desta mulher é desenhada com luz na superfície gelatinosa de uma película fotográfica.

Um comentário:

bruno reis disse...

derramar água no asfalto, uma bela vingança. adorei a idéia do blog, seu diogo braga, muito bacana!